historico:2014:ensaios:ribeiro
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+ | ====== A seleção de modelos para avaliar o efeito da utilização de iscas na detecção e ocupação de mamíferos ====== | ||
+ | === Fernando Silvério Ribeiro === | ||
+ | * Departamento de Ecologia, IB – USP | ||
+ | * fer_rib@ig.com.br | ||
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+ | ===== Introdução ===== | ||
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+ | A minha pesquisa trata da invasão de cachorros domésticos em remanescentes florestais. Meu objetivo é avaliar os determinantes dessa invasão e impactos na fauna nativa de mamíferos de maior porte. Para isso, vou utilizar armadilhas fotográficas para a amostragem de cachorros e mamíferos nativos, porém preciso definir se utilizarei iscas e, em caso afirmativo, de qual tipo. | ||
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+ | O uso de iscas atrativas é comum para esse tipo de trabalho (O' | ||
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+ | Apesar dessa preocupação, | ||
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+ | A partir de dados coletados em diferentes sítios e com diferentes iscas (sem o uso de iscas, com iscas alimentares, | ||
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+ | ===== Conceitos ===== | ||
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+ | O arcabouço teórico da seleção de modelos envolve duas bases principais, a inferência por verossimilhança e um critério de escolha. O critério abordado na disciplina, conhecido por Critério de Informação de Akaike (AIC), é baseado na Teoria da Informação e foi proposto pelo estatístico japonês Hirotugu Akaike. | ||
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+ | A inferência estatística através da verossimilhança baseia-se na Lei e no Princípio da Verossimilhança. A Lei da Verossimilhança diz que a observação de uma variável aleatória //X = x// favorece a hipótese A em relação à hipótese B caso a probabilidade definida pela hipótese //A// de se observar //x// seja maior que a probabilidade definida pela hipótese //B//. Isso ainda implica que a Razão de Verossimilhança (razão da probabilidade de se observar //x// dada por //A// sobre a probabilidade dada por //B//) mede a força de evidência em favor da hipótese //A// sobre a hipótese //B// (Batista, 2009). Já o Princípio da Verossimilhança afirma que a razão de verossimilhança é uma medida absoluta da força de evidência na comparação entre duas hipóteses. Assim, razões de verossimilhança iguais, independente dos dados e das hipóteses, indicam exatamente a mesma evidência estatística. | ||
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+ | Dentro da abordagem da seleção de modelos, a verossimilhança é usada tanto para ajustar os modelos (encontrar, através do estimador de máxima verossimilhança, | ||
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+ | O AIC é utilizado para essa comparação. É uma medida da distância relativa de um modelo estatístico ao modelo real (ou seja, ao processo que gerou os dados). Quanto menor o AIC, menor a distância e mais plausível é o modelo. De uma maneira simplificada, | ||
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+ | ===== Impacto na minha pesquisa ===== | ||
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+ | Conforme visto na introdução, | ||
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+ | Antes de cursar a disciplina, minha única opção de análise era a inferência frequentista e isso me traria uma série de problemas. Para começar, meus dados não tem distribuição normal, o que seria uma premissa frequentista. Dados de presença/ | ||
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+ | Outro problema seria a impossibilidade de comparar diversos modelos ao mesmo tempo. A abordagem frequentista baseia-se em testes de significância entre a hipótese nula e a alternativa. Mesmo com a possibilidade de criar uma hipótese nula bem fundamentada na pergunta (e.g. a ocupação não muda entre diferentes tipos de iscas) eu perderia a possibilidade de discriminar entre diferentes hipóteses alternativas. O processo para explorar todas as possibilidades seria fragmentado, | ||
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+ | Com a abordagem da seleção de modelos, o processo torna-se mais lógico. A partir dos dados, pretendo criar e ajustar uma série de modelos representando hipóteses sobre os possíveis efeitos das iscas (sem efeito, efeito na detecção, efeito na ocupação ou efeito em ambos os parâmetros). Com a utilização do AICc, espero chegar aos melhores modelos, responder a minha pergunta e definir como dar continuidade à pesquisa. | ||
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+ | ===== A análise ===== | ||
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+ | Nesta seção, irei descrever como a abordagem de seleção de modelos será aplicada diretamente à minha pesquisa. Para simplificar, | ||
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+ | Farei uso de modelos de ocupação. Esses modelos possuem ao menos dois parâmetros, | ||
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+ | Modelos de ocupação //single season// possuem apenas os parâmetros ocupação e detectabilidade. Esses modelos assumem populações fechadas e ocupação constante ao longo do tempo, sendo possível modelar através de covariáveis que mudam ao longo do tempo, como as iscas, apenas o parâmetro detectabilidade. Dentro desse grupo ajustarei dois modelos, um constante e outro com a detectabilidade variando conforme a isca. Isso me permite saber se as iscas influenciam na detecção, porém ainda não diz nada sobre a ocupação. | ||
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+ | Para modelar o efeito das iscas na ocupação, irei considerar as populações abertas. Modelos //multi season// lidam com essa possibilidade e, para isso, incluem mais dois parâmetros, | ||
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+ | Todos os modelos serão comparados na mesma seleção, via AICc. Apesar de pertencerem a classes distintas, eles aplicam-se aos mesmos dados e, portanto, são comparáveis. A seleção de um modelo //multi season// será indício de que as iscas interferem na ocupação e, portanto, não devem ser utilizadas. Já a seleção do modelo //single season// com iscas como covariáveis da detecção indicaria que elas não interferem nos padrões de uso de espaço das espécies e apenas diminuiriam o erro das estimativas, | ||
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+ | ===== Referências bibliográficas ===== | ||
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+ | Batista, J.L.F. 2009. Verossimilhança e Máxima Verossimilhança. Centro de Métodos Quantitativos, | ||
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+ | Fiske, I.J., Chandler, R.B. 2011. unmarked: An R Package for Fitting Hierarchical Models of Wildlife Occurrence and Abundance. Journal of Statistical Software. 43 | ||
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+ | Garrote, G., Gil-Sánchez, | ||
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+ | Gerber, B.D., Karpanty, S.M., Kelly, M.J. 2012. Evaluating the potential biases in carnivore capture–recapture studies associated with the use of lure and varying density estimation techniques using photographic-sampling data of the Malagasy civet. Population Ecology, 54: 43-54 | ||
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+ | MacKenzie, D.I., Nichols J.D., Hines, J.E., Knutson, M.G., Franklin, A.B. 2003. Estimating Site Occupancy, Colonization, | ||
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+ | MacKenzie, D.I., Nichols, J.D., Lachman, G.B., Droege, S., Royle J.A., Langtimm, C.A. 2002. Estimating Site Occupancy Rates when Detection Probabilities Are less than One. Ecology. 83: 2248-2255 | ||
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+ | O’Connell, | ||
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+ | Paull, D.J., Claridge, A.W., Barry, S.C. 2011. There’s no accounting for taste: bait attractants and infrared digital cameras for detecting small to medium ground-dwelling mammals. Wildlife Research. 38: 188-195 | ||
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+ | Thorn, M., Scott, D.M., Green, M., Bateman, P.W., Cameron, E.Z. 2009. Estimating brown hyaena occupancy using baited camera traps. South African Journal of Wildlife Research. 39: 1-10 | ||