historico:2014:ensaios:marques-azevedo
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+ | ====== Como a abordagem pela verossimilhança se ' | ||
+ | === Mario José Marques-Azevedo === | ||
+ | * Pós-Graduação em Ecologia, UNICAMP | ||
+ | * mariojosebr [at] yahoo [dot] com [dot] br | ||
+ | ===== Uma (muito) breve introdução das abordagens frequentista e por verossimilhança ===== | ||
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+ | Nossos cérebros são ávidos por padrões((Merriam-Webster: | ||
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+ | Como não sabemos, na grade maioria das vezes, qual o verdadeiro mecanismo que resultou em um padrão de interesse, precisamos lançar mão de técnicas que nos permite estabelecer uma certa probabilidade ao observado. Para isso, precisamos traduzir nossas hipóteses em descrições quantitativas via modelos((representação física ou matemática de um sistema (Levin, 1992) )) (Hilborn and Mangel, 1997). Como toda descrição de padrões é a descrição da variação (Levin, 1992) e essa variação pode ser devido ao processo de mensuração ou intrínseco do próprio sistema (Bolker, 2008), modelos estatísticos permitem estabelecer uma probabilidade às observações que realizamos considerando a variação que pode conter no sistema (Lewin-Koh et al., 2004). | ||
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+ | Podemos, de uma maneira bem geral, separar as abordagens de avaliação das hipóteses em abordagem frequentista e da verossimilhança. A abordagem frequentista confronta os dados com uma única hipótese (dita nula), procurando qual o suporte encontrado nos dados para a hipótese (considerada verdadeira), | ||
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+ | Frequentemente na ciência procuramos descrever mecanismos para explicar padrões. Por meio do método científico, | ||
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+ | ===== Distribuição de probabilidades e função de verossimilhança ===== | ||
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+ | Um ensaio((processo de geração dos dados)) (//trail//) pode ter vários resultados, por exemplo: um bebê ser menino ou menina ou uma planta ter de zero a milhares de sementes (Otto and Day, 2007). Uma variável aleatória X (maiúsculo) pode ter vários resultados, no caso dos nascimentos X=′menino′ ou X=′menina′, | ||
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+ | A probabilidade de uma data observação está condicionada à uma função (modelo probabilístico) ou parâmetros da função que descreve uma distribuição de probabilidade: | ||
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+ | ===== Seleção de modelos e inferência por verossimilhança ===== | ||
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+ | Os modelos probabilísticos são as ferramentas pelas quais retiramos evidências estatísticas dos dados (Royall, 2004). Suponha duas hipóteses HA e HB que fornecem probabilidades para uma variável aleatória PA(X) e PB(X), respectivamente. Segundo a Lei da Verossimilhança, | ||
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+ | Com a função de verossimilhança dos modelos e uma ferramenta para seleção dos mesmos, podemos inferir sobre nossos dados. A inferência pela verossimilhança é baseada na Lei da Verossimilhança (descrita acima) e o Princípio da Verossimilhança. Neste princípio, uma vez que aceita-se que a função de verossimilhança caracteriza completamente a evidência contida nos dados, duas hipóteses são equivalentes se possuem a mesma função de verossimilhança (Royall, 2004). A inferência por verossimilhança é baseada nos dados e utiliza-se da função de verossimilhança, | ||
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+ | ===== Seleção de modelos e inferência por verossimilhança em estudos de comunidades ecológicas ===== | ||
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+ | Essa abordagem por verossimilhança (seleção de modelos e inferência) é uma ferramenta importante para dados ecológicos. Frequentemente temos várias hipóteses de como um sistema pode funcionar e confrontar os dados com apenas um modelo nulo, de ausência de efeito, como feito na abordagem frequentista, | ||
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+ | Em meu projeto de doutorado, procuro entender como comunidades arbóreas são estruturadas. Especificamente estou trabalhando com um gradiente de disponibilidade de nutrientes no solo e, juntamente com informações funcionais e filogenéticas, | ||
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+ | ===== Considerações finais ===== | ||
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+ | Uma característica muito importante da abordagem por verossimilhança é a necessidade de se ter modelos concorrentes bem fundamentados. A seleção de modelos irá apresentar o melhor modelo, dentre os concorrentes, | ||
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+ | Esse ensaio teve como objetivo descrever em linhas bem gerais as ideias de seleção de modelos e inferência pela abordagem da verossimilhança. Por isso preferi não abordar algumas derivações de expressões. Obviamente há muito mais detalhes a se explorar para a compreensão mais detalhada do assunto. Essa abordagem, nova na ecologia, embora desenvolvida há tempo, é promissora e precisa de consciência de todos os passos, para não repetirmos alguns equívocos que cometemos ao usar a abordagem frequentista. Não que esta última esteja errada ou que não deva ser mais utilizada, mas precisamos de consciência do que podemos fazemos. Para mais informações sobre toda essa discussão, as referências utilizadas nesse ensaio são um ponto de partida. | ||
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+ | ===== Referências bibliográficas ===== | ||
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+ | Bolker, B.M., 2008. Ecological models and data in R. Princeton University Press, Princeton, N.J. | ||
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+ | Burnham, K.P., Anderson, D.R., 2002. Model selection and multimodel inference: a practical information-theoretic approach, 2nd ed. Springer, New York. | ||
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+ | Hilborn, R., Mangel, M., 1997. The ecological detective: confronting models with data, Monographs in population biology. Princeton University Press, Princeton, NJ. | ||
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+ | Levin, S.A., 1992. The problem of pattern and scale in ecology: the Robert H. MacArthur award lecture. Ecology 73, 1943–1967. doi: | ||
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+ | Lewin-Koh, N., Taper, M.L., Lele, S.R., 2004. A brief tour of statistical concepts, in: Taper, M.L., Lele, S.R. (Eds.), The Nature of Scientific Evidence: Statistical, | ||
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+ | Otto, S.P., Day, T., 2007. A biologist’s guide to mathematical modeling in ecology and evolution. Princeton University Press, Princeton. | ||
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+ | Royall, R., 2004. The likelihood paradigm for statistical evidence, in: Taper, M.L., Lele, S.R. (Eds.), The Nature of Scientific Evidence: Statistical, | ||
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+ | Taper, M.L., Lele, S.R. (Eds.), 2004. The nature of scientific evidence: statistical, | ||
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+ | ===== Citação ===== | ||
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+ | Este ensaio é um produto de disciplina da pós-graduação da Universidade de São Paulo. Para citá-lo: | ||
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+ | Marques-Azevedo, |